terça-feira, 20 de abril de 2021

tujura?

 tujura?. o que é tujura?. tu jura que vai ficar comigo pra sempre?. eu sei, eu sei, é difícil responder um negócio desses se a gente nem sabe quem vai ser amanhã, mas parece que preciso ouvir esse juramento. (...). sempre fui chata com essas coisas de jurar e prometer, como se isso fosse alguma garantia. garantia de quê? pra quê?. sei lá, a vida já é tão incerta, tão... solta. ai você precisa sair por aí dando nós?. preciso. preciso que fique tudo bem amarrado, pra não sentir que vou me perdendo e me soltando. talvez isso que você precise: se soltar, se perder, se reencontrar. isso tudo me parece papo clichê-good-vibes. cê sabe que não gosto de nada disso, mas talvez eu precise mesmo me soltar. nada é tão certeiro. você tem razão, nada é. tujura?. não vou jurar, por que você precisa que eu jure que nada é tão certeiro? simplesmente não é. preciso aceitar mais a vida do jeito que ela é. precisa. preciso. ó, não se preocupa, tá? você se encontra logo, logo, vai perceber que a vida é mais fácil do que parece. tujura?

sábado, 2 de janeiro de 2021

Silêncio

 E ali, sob o sol escaldante, o barulho das crianças brincando, o mar batendo nas pedras, eu só te olhava. em silêncio. Você olhava para baixo, sem graça. Em silêncio. Mas eu queria recitar poesias, te falar das linhas preciosas do meu autor favorito que tanto me lembravam a ti, te dizer das músicas que me fazem querer fumar e chorar, te dizer que nada importa. E que tudo deveria importar.

Te dizer que o silêncio me incomoda só porque através dele eu não consigo te abraçar. Meus braços curtos demais pra te alcançar e minha boca invisível demais pra te beijar. Em silêncio.

Te dizer, enfim, que mesmo quando eu acho que esqueço, eu não esqueço. Em silêncio.

Os pássaros cantando. O sol fazendo uma gota de suor escorrer pelas costas. O cabelo dourado reluzindo com a luz amarela. 


Em silêncio são ditas muitas coisas.

2021

 E essa vontade, Pedro, de estar tão só um ainda me abrirá um buraco no peito. 

Quase nunca estou só, pois os corpos me rodeiam, mas mesmo assim, algo em mim clama pelo silêncio, pela boemia que existe, misteriosamente, nas músicas que ecoam nas paredes da minha casa. Sem bocas cuspindo palavras e movimentos bruscos que tiram a serenidade daqui.

Pedro, é assim? Ficar velho é assim? Você começa a querer se isolar e gosta desse isolamento, da solitude, da solidão. E quanto mais você tem, mais você quer. E se eu gostar muito de ficar assim? Não é perigoso?

Mande notícias,


J.

domingo, 16 de agosto de 2020

 E não te achando e não te procurando, vou esbarrando em esquinas da cidade com a lembrança de um rosto que, de tanto não ver, já esqueci.

Virginia e o mar

 Tal qual Virginia Woolf, ela estava parada frente ao mar. As ondas batendo geladas em seus pés descalços. Tal qual a autora, ela sentia uma força que a puxava para dentro do mar, para o barulho do quebrar das ondas, da espuma branca que se espalhava pela areia. Se perguntava o que havia naquela infinitude azul escuro. Se havia mais do que ela poderia saber. Se havia mais do que ela conhecia. Se havia algo lá que talvez não pudesse ter aqui. 

Sentia que seu tempo caminhando na areia estava acabando, que precisava tomar decisões logo. Sua cabeça doía e só havia um jeito de fazer parar de doer.


Mas deu meia volta e seguiu seu caminho na areia branca. Precisava resolver umas coisas em sua máquina de escrever e na sua vitrola antes que pudesse pensar nas famigeradas decisões. 

quarta-feira, 1 de julho de 2020

Olhos de Jabuticaba

Seus olhos de jabuticaba viviam lacrimejando. Não sei se de emoção. Mas quando me via sorria com esses mesmos olhos. Levava minha mão até seu coração e dizia "viu, fico assim perto de você". E o coração batia.
80 bpm?
100?
Não sei, mas batia forte, enquanto os olhos sorriam e lacrimejavam e pulsavam.
Eu sorria junto.
Doía de um jeito bom saber que eu existia em alguém do jeito que eu existia nele.

Naqueles olhos de  jabuticaba, nos cabelos enroladinhos, nas mãos limpas e com veias, nos lábios cheios, na pele macia e queimada pelo sol, eu me encontrava. Sabia que, de alguma forma, eu havia parado de implorar por coisas que deviam ser me dadas naturalmente. E estavam sendo dadas.


Existir desse jeito, tão bonito, perante os olhos e os sentimentos de alguém era reconfortante. Como ouvir o mar e sentir o vento.



De J,
Para A. 

sexta-feira, 3 de abril de 2020

Trechos quaisquer

Ei,

Você foi como Hiroshima pra mim. Hiroshima, não. Nagasaki. Uma grande bomba nuclear de plutônio que deixou um buraco na minha vida. Quase que sem sobreviventes. 
Essa pode ser uma péssima metáfora, com uma conotação pior ainda. 
Mas essa só diz respeito a mudança que causou na minha vida. 
O mundo não foi o mesmo depois da segunda guerra mundial, do grande dia D, do ataque à Pearl Harbor, da invasão à normandia. Não foi. 
Do mesmo jeito que não sou a mesma depois dessa grande imensa bomba de gigantescas proporções na minha vida.
O mundo se reconstituiu, mas mudou. esses fatos permanecem.
Você permanece.
Em algum lugar, nos recônditos do meu coração, do meu cérebro, nas sinapses dos meus neurônios. 
Uma vez li em algum lugar que o toque da pessoa fica grudado em sua pele por meses, até que células da pele troquem. Você é assim pra mim. Tá carimbado nos órgãos mais internos do meu corpo. Sem garantia de troca. Como se fosse uma marca de nascença. 
Não tem como te tirar da minha narrativa. Nem tiraria se pudesse.

Um beijo, meio confuso, cheio de metáforas, de quem te tem aqui,

J.